O mágico era médio. A festa estava média. O brigadeiro estava ótimo. O play estava decorado com bolas vermelhas enormes e crianças de cores e tamanhos variados. E Violeta, que já não era mais criança há muito tempo. O mágico agia como se estivesse em um palco e não em um play decorado com bolas e crianças e Violeta-que-já-não-era-criança-há-muito-tempo. Uma hora, aconteceu. Foi depois do número do coelho e antes do número do pombo. Nesse exato momento, cada uma das crianças da festa pensava a mesma coisa: "De onde saiu esse coelho?". O mágico, pensava: "Quando chegar em casa não posso esquecer de colocar essa calça pra lavar." E Violeta, sentada no chão, não pensava em nada. Assim como não pensava em nada quando levantou, e não pensava em nada quando subiu no palco-play do mágico onde ele segurava uma flor de plástico (que, infelizmente, por causa de Violeta, naquele dia não teria oportunidade de virar pombo nenhum). Violeta só pensou em alguma coisa quando viu todas aquelas crianças olhando fixamente pra ela esperando alguma explicação. "Devia ter comido mais um brigadeiro". Foi o que ela pensou. Mas não dava mais tempo de nada, muito menos de comer brigadeiro, e Violeta já estava com a atenção (ela, que odiava atenção) de 50 crianças (ela, que não tinha jeito com criança) e de um mágico (ela, que tinha pavor de mágico), que esperavam pra saber por que diabos ela tinha interrompido um show que estava sendo perfeitamente agradável até então. "Não existe pote de ouro no final do arco-íris". Apesar do tom conclusivo, Violeta estava só começando. "Não existe pote de ouro, e essa cartola tem um fundo falso, e esse dedão do mágico é de borracha, e esse baralho só tem cartas iguais, e ele pega a moeda com a mão esquerda enquanto vocês olham pra direita, e o Papai Noel é o pai de vocês com uma barba falsa e uma roupa quente demais pro mês de dezembro, e quando você beijar alguém pela primeira vez não vão tocar sinos - a não ser que você esteja perto de sinos, e não há fada do dente, nem coelho da Páscoa, nem príncipe encantado, e ninguém é feliz para sempre." Apesar do tom introdutório, Violeta resolveu concluir: "É isso. Foi isso que eu subi aqui pra dizer. Foi pra isso que eu interrompi o show de mágica. Foi pra dizer que eu não interrompi show de mágica nenhum. Porque não existe mágica. Não existe pote de ouro no final do arco-iris." E nesse momento, enquanto as dezenas de cabeças pensavam nas mais variadas coisas, uma das cabeças em vez de pensar falou alguma coisa. "Mas e o arco-iris? Existe o arco-iris?" Violeta teve que se render. "O arco-iris existe." E foi comer um brigadeiro.
Violeta- Clarice Falcão
Eu gosto desse texto, bastante até. Mostra que por mais que tudo o que você acreditava de repente deixe de existir, sempre tem alguma coisa que vai te animar, e mostrar que nem tudo está perdido. Meio deprê essa mensagem, mas gosto do texto mesmo assim. O jeito que Clarice escreve é tão diferente e legal! Vocês leitores gostam desse tipo de post? Se sim é só comentar ou clicar no coração ali embaixo que eu posto mais esse tipo de texto tá?
que história linda! posta mais desse tipo! s2 te amo! sou tua fã!
ResponderExcluirQue vergonha hahah mas que bom que gostou! Vou procurar mais histórias desse tipo então, beijoss
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